domingo, 23 de novembro de 2008

Eu tive um Sonho

“EU TIVE UM SONHO” Parte I Germano Machado “Eu tive um sonho” – foi a grande palavra do reverendo negro americano Martin Luther King contra o racismo de sua nação. Também tive e continuo tendo, de existir um movimento cultural de grandes proporções, atividades e aberturas sociais. Esse foi e ainda é o meu sonho com o CEPA – Círculo de Estudo Pensamento e Ação… Em 13 de junho de 1951, em sua sede no Largo da Saúde 9, abria uma pensão para estudantes do interior, em particular, o andar do meio era uma grande sala com mesa e cadeiras modernas, com um Crucifixo e a bandeira do Brasil na parede. A casa toda foi benzida pelo padre Carlos Gaeschlin. Os principais elementos do CEPA eram o fundador e os co-fundadores sócios José Carlos Wanderley Guimarães; Ático Villas-Boas da Mota; Ivo Rezende de Andrade; Carmem Ribeiro (chamada Carmem de Berlim, ex-militante comunista que se decepcionou com a ideologia no Congresso da Juventude em Berlim, onde se patenteou a falta de liberdade dos seguidores e dos dirigentes); Edna Sousa, que, com Carmem se formou em advogada e foi para São Paulo; os dois irmãos e o primo que também por sobrenome eram chamados os Peixoto; elementos da Western – correio inglês hoje desaparecido; e ainda dois rapazes da Esquerda Democrática, socialistas, mas de tendências trotskistas e anti-PCUS (Partido Comunista da União Soviética). Não posso esquecer também de Jorge Montalvão, que organizou o movimento monarquista, que foi permitido, embora a maioria fosse republicana, o qual levou para a sede uma grande pintura antiga, do século XIX, que viera de sua terra natal, Sergipe. E ainda de Leão Gomes Júnior e outros. Em setembro ou outubro, instalou-se nessa sede do CEPA a Associação dos Estudantes Secundários da Bahia (AESB), tendo à frente o saudoso Hermano Gouveia. Tínhamos reuniões às quintas-feiras e aos sábados, com predominância de estudos tomistas, mais ainda dos filósofos Jacques Maritain, Henri Bergson, Santo Agostinho, Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Ataíde), Gustavo Corção, incluindo ainda Platão e Aristóteles. Movimentávamos contra a ditadura varguista, apoiando o grande orador e jornalista Carlos (Frederico Werneck) de Lacerda e seu jornal diário no Rio de Janeiro – a Tribuna da Imprensa. Nas reuniões de quintas e sábados organizavam-se debates de orientação política, nacional e internacional; comentários de livros; recitavam-se poesias de cunho sempre político e social; convidávamos palestrantes. Havia festas e saraus. Em início de 1952, Ivo Rezende de Andrade convidou o então estudante de filosofia Hélio Rocha para fazer uma palestra sobre Folclore, que ultrapassou os debates e questionamentos. Ainda em 52, junho e julho, Carlos Lacerda escreveu à JUC (Juventude Universitária Católica) sobre sua vinda à Bahia para ampliar a Tribuna da Imprensa e uma revista, cujo nome esqueço, e também ao CEPA. A verdade é que, afinal, o CEPA ficou à frente. Lacerda falou quinta-feira na sede do CEPA, no Largo da Saúde, depois no Palácio da Sé, sábado, terça na Faculdade de Filosofia, cujo Diretor Isaias Alves, o grande e inesquecível educador, o recebeu com os professores, mesmo os que o combatiam ideologicamente. Contudo, a fala de Carlos Lacerda na Faculdade de Direito, na hoje sede da OAB, na Lapa, não foi normal: aplausos, vaias, gritos, empurrões e palavrões, folhetos com palavras deprimentes, de tudo se viu. Lacerda foi tão gigante na oratória e exposição que foi aplaudido e recebeu fortes palmas gerais…

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