sexta-feira, 10 de julho de 2009
VENDE-SE TUDO
No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe,
avisando
que estava vendendo tudo O que ela tinha em casa, pois a família voltaria a
morar nos Estados Unidos.
O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento.
Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:> > - Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo
apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e
por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar,
aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no
seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados
no chão.
O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite
e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma
estante.
Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além
disso,
eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus
móveis
e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e
desfalcavam
o meu lar, que a cada dia ficava mais nu,mais sem alma.
No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê.
No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo,
topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os
travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que
aprendi
a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada
que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas
que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar.
Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez
mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa
o tempo que estiveram presentes na minha vida... Desejo para essa mulher que
está vendendo suas coisas
para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite
no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na
época tinha 2 anos
de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio.
Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã,
já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções
todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde.
Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.
Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir,
é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!
MRTHE MEDEIROS
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Um comentário:
olá amiga, sobre o texto Desapego Já, que eu tinha lido há algum tempo, agora, ao reler no seu blog, lembrei-me do exagero de bagagem que costumamos carregar na vida, não é mesmo? Inclusive pensei até em como nos apegamos em demasia aos bons momentos, e esquecemos da filosofia budista que nos incita a conviver melhor com a impermanência...é bom aproveitar cada instante e saber deixá-lo para trás, conservando sua energia positiva ou esquecendo o que nos causou de sofrimento. Bom é seguir, desapegando do material e do imaterial, exercitando o difícil desapego, obrigada por me lembrar disso, é um constante e difícil treinamento, mas representa a liberdade de ser e sentir, viver e seguir em frente. beijos Cida Torneros
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