
domingo, 6 de dezembro de 2009
#Um pacto com a esperança
Um pacto com a esperança
Quando me perguntam o que existe de melhor na minha profissão, eu costumo citar muitas coisas: poder compartilhar o que penso e sinto com um monte de gente, poder trabalhar em casa, a vaidade de ver meu trabalho reconhecido, descobrir que o que escrevo pode se transformar em cinema, teatro, música, e ainda ganhar uns pilas honestos, que jamais farão de mim uma milionária, mas que permitem que eu viva dignamente e que sustente o meu maior prazer, que é viajar.
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Bom, mas faltou citar o mais importante de tudo. Através do meu trabalho, tive e tenho a oportunidade de conhecer pessoas com quem normalmente eu jamais cruzaria. Desde artistas de quem sou fã absoluta e que acabaram se tornando amigos com quem troco telefonemas, e-mails e encontro eventualmente quando vou ao Rio e S. Paulo, até pessoas "normais" que me conquistaram por sua gentileza e carinho. Sempre conto a história da Marcia Corban, uma brasileira que mora na Suiça há uns 20 anos, e que ao ler o Divã, se prontificou a traduzí-lo pro francês, de tanto que se apaixonou pelo livro. Depois de uma troca frenética de e-mails, eu autorizei e, pra encurtar a história, ela acabou virando minha agente literária para assuntos internacionais: através dela o Divã já foi traduzido para outros idiomas. Porém o mais incrível é que nos tornamos amigas íntimas, a ponto de a literatura deixar de ser o que nos une, e sim nossas profundas afinidades.
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Mas hoje quero citar algo que me comoveu. Há alguns anos, uma mineira simpaticíssima começou a me escrever e a me telefonar pedindo que eu fosse a Belo Horizonte para um bate-papo organizado por ela, numa entidade que agora não vou lembrar o nome, sorry. Acabei indo e conhecendo essa mulher vital, animada e energética que se chama Marilda Aquino, e conhecei também o enteado dela, Rodrigo Aquino, cantor e compositor que está se lançando no mercado musical já com uma repercussão ótima do seu trabalho, e também a Lucia, uma amiga da família, e a Selma, locutora de uma rádio local, e de quebra ainda fiz amizade com a Angela e a Ludmila, mãe e filha, duas fantásticas produtoras de eventos, que fazem BH vibrar no cenário artístico. Mas é da Marilda que quero falar.
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Hoje de manhã saí para dar minha caminhada diária e quando retornei ao prédio, o porteiro me entregou um pacote enviado por sedex. Olhei o remetente: Marilda Aquino. Pensei: será que a Marilda, tão afetiva, está me mandando uma lembrancinha de Natal? Abri o pacote e meu coração disparou, com o perdão da pieguice da cena. Mas foi assim, não tem como contar de outro jeito. Dentro do pacote estava o calendário poético do Mario Benedetti, aquele calendário que tentei comprar no aeroporto de Granada, na Espanha, aquele que pensei em roubar porque a vendedora simplesmente não facilitou minha vida, já que não havia um preço estipulado para o produto, enfim, aquele que acabou rendendo um post sobre roubo de livros, que coloquei no ar dias atrás. Marilda fez uma coisa muito simples, que eu poderia ter feito, mas não fiz. Ela garimpou o produto pela internet, o encontrou num site de compras, encomendou, recebeu a encomenda em sua casa, escreveu um belo cartão e agora fez a encomenda chegar ao meu apartamento, à minha escrivaninha, de onde escrevo neste instante pra vocês, com o calendário já aberto sobre a minha mesa.
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Parece uma coisa simples. Não é. É um ato amoroso, delicado e cada vez mais raro, feito por uma pessoa com quem não tenho intimidade, mas que de certa forma se sentiu impulsionada a me retribuir pelos textos que escrevo. Me diga: tem coisa mais bacana do que as pessoas manifestarem seu carinho assim, de forma tão elegante? Ou sou eu que ando muito sentimental... Que seja. Espero permanecer sentimental até 2012, quando, dizem, o mundo vai acabar. Mas se as pessoas seguirem exercitando gentilezas como as da Marilda, não acaba não.
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Ah, tá me achando muito boazinha? Nada! Quem leu o post sobre minha frustração no aeroporto espanhol sabe que eu queria comprar o calendário pra dar de presente para um amigo. Vou dar. Vou tentar buscar esse site que a Marilda encontrou, vou copiar passo a passo a dedicação dela, mas este que chegou hoje aqui em casa é MEU!!!!
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No calendário, há um poema para cada dia do ano. Deixo aqui transcrito o poema de primeiro de janeiro de 2010, totalmente dentro do clima do que aconteceu nessa minha manhã de sábado.
"Tengo las manos llenas de caricias
para sembrar en uma carne fértil
y he hecho un pacto com mis esperanzas
para que nunca nos abandonemos"
(Mario Benedetti)
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Beijos, bom findi!!!!
Martha Medeiros

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