domingo, 18 de abril de 2010

# MINHA CASA

O apartamento com paredes forradas de tecido vermelho reflete a ousadia e a natureza inquieta de Danuza Leão. Feito com muito capricho, como ela mesma afirma, é há três anos o seu lugar preferido no mundo INSPIRADA por um permanente desejo de transformação, Danuza já mudou de casa 16 vezes, só no Rio de Janeiro, onde mora ainda hoje. Em uma fase tranqüila, ela curte a quietude do seu atual apartamento. O momento low profile se traduz na frase: “Não vejo ninguém, não almoço com ninguém, não janto com ninguém”, reproduzida em francês num adesivo na parede, obra de sua filha, Pinky Wainer, artista plástica. A foto atrás dela é da neta, Rita Wainer Fazendo as contas, há quase três anos moro no mesmo apartamento, que, aliás, adoro – mas será que já não é hora de pensar em mudar? Mudar de casa para mim é mudar de vida, é trocar de pele; se eu pudesse, com a nova mudança acordaria ruiva e cheia de sardas ou morena de cabelos cacheados, qualquer coisa que significasse transformação total. Cheguei à conclusão de que sou uma péssima dona-de-casa; não sei receber para jantar, fico nervosa, acho que tudo vai dar errado. Sendo assim, poderia perfeitamente morar num apartamento menor. Para que eu preciso de uma mesa de jantar para oito pessoas se como numa bandeja? Custei a perceber que, apesar de tudo isso ser verdade, é também uma desculpa para outra mudança. Começar de novo: é isso que me move. Só que às vezes me dá preguiça.Vamos ver se, falando sobre isso, eu me entendo melhor. O lugar onde eu moro é maravilhoso: minha aula de pilates fica a três minutos a pé, meu cabeleireiro também, o banco fica a cinco, tenho dois supermercados e uma feira nas redondezas e, para chegar à Lagoa, onde ando três vezes por semana, são quatro quarteirões. Preciso de algo mais para ser feliz? Claro que não. Pois, nos meus devaneios, penso num apartamento menor – só que no mesmo lugar. Para quê? Por quê? Para ficar de novo ansiosa, andando atrás de um belo revestimento para minha cozinha, ou talvez fazer como a viúva de Jorge Luis Borges (escritor argentino), que derrubou todas as paredes de seu apartamento em Buenos Aires e eliminou a cozinha, nem geladeira tem, só uma máquina de café. Não deixa de ser um estilo de vida original, que deve ajudá-la inclusive a conservar o peso, mas e a coragem? O que faço se acordar às 3 da manhã com fome?

Um comentário:

Luci Cardinelli disse...

Gosto muito de ler Danusa, sempre me leva a pensar.

beijos e ótima semana :)