quinta-feira, 20 de maio de 2010

# PELA METADE

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só... Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação. O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano. A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade... A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). Adora tomar um banho demorado, mas se contém para não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo. Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai. Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão... Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções. Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'... Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado... Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora. Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate... Depois a gente vê como é que faz para consertar o estrago... Danuza Leão

8 comentários:

Elaine Gaspareto disse...

Liz,
Este é um comentário-convite.
Quero convidar você para participar de uma mega promoção que está acontecendo lá no blog: sorteio de 1 exemplar do livro Perseguição digital. Para participar basta acessar este link e preencher o formulário. É simples e bem rápido. Espero você.
Beijos e obrigada.

Saron... disse...

Oi Liz, desde ontem queria vim ate aqui e da uma espiada, ver como vc esta , as novidades.E mais uma vez gostei do texto.Meias porções...É verdade, vivemos delas com medo de ser...Como a escritora disse.
Bjos

Betty Gaeta disse...

Eu adoro a Danuza Leão. Eu quero ser ela amanhã! Ela é bonita, rica, charmosa, inteligente e está com 75 anos sem perder o pique.
Bjkas e boa noite!

Lilian disse...

Seu texto é ótimo!

To sempre assim...Igual a Danuza,me policiando e seguindo regras!
O espelho é aquele que mais me acusa!rs

Amei as verdades....

Beijocas em vc,amiga querida!!!

Jose Sousa disse...

Olá... Passei por aqui e vou voltar, vou ser seu seguidor. Gostei do blog e do que escreve. Só o problema é que esta postagem me deixou de água na boca!!!
Conheça os meus blog's em:
www.congulolundo.blogspot.com
www.queriaserselvagem.blogspot.com

Um grade abraço e tenha um bom dia.

Gigi disse...

Gostei muito desse texto da Danuza. Muito bem selecionado.
Gostei bastante do seu blog.
Obrigada por dar uma passada no "Mulheres que escrevem" e convido-te a dar uma outra passadinha lá. Tem texto novo.

Anna D'Castro... disse...

Oi Liz, vim retribuir sua visita nas minhas 'Flores' e adorei logo de 'caras' o titulo de 'SEBÃO', pois eu sou 'rato(a)de Sebo'mesmo, e tenho comprado livros espetaculares (algumas raridades tb), a preços da 'chuva' nos sebos que visito.
Dei uma olhada no seu blog e amei as crônicas da Danuza e tb a da Lya Luft no dia 9/5 'A Canção de qualquer Mãe'...
O Pelourinho como marco nacional e cartão de visita da Bahia - Salvador, está sendo muito mal tratado. Tem que haver um maior empenho da população - até organizar vários mutirões - para dar um 'abanão' nas autoridades para que prestem mais atenção ao patrimônio nacional, senão continua a vigorar 'a lei do descaso nacional' (e depois se queixam que os estrangeiros se aproveitam desse mesmo descaso, pra deitar a mão).
Força querida. É preciso bater e insistir. É como diz o ditado: 'Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura'.
Venha sempre até às 'flores', se quiser pode tb visitar as 'Palavras Semente... de palavras somente' -
www.palavrasemente.blogspot.com
Beijão
Anna D'Castro

Srta Laís disse...

Oi Liz! Seja Bem vinda ao " Que seja doce!"

Falando em doce... quão irritantes são as pequenas bolas de sorvete! rsrsrs, um pote de sorvete por favor!!! depois me converso com meu quadril! ahuahauahauau

beijoss