sábado, 3 de julho de 2010

# O Problema é o Frigobar

Morar em um hotel é o meu sonho de consumo. Aquela sensação de transitoriedade, de que você não está amarrada a nada, de que está em trânsito pela vida, sem uma só responsabilidade. Tem coisa melhor? Fora o conforto. Se estou em casa e quero comer um queijo quente, nunca tem o queijo ou o pão acabou (e isso é apenas o começo). No hotel, é só pegar o telefone e em segundos chega um sanduíche perfeito, ainda com direito a uma folha de alface e uma rodela de tomate, coisa rara de encontrar, pelo menos na minha geladeira. E a lavanderia? Quando quero usar a camisa que mais adoro e descubro que ela está com uma mancha, é só chamar a arrumadeira e dizer, tranquilamente, que preciso da peça pronta até as 7 da noite. Esses milagres, só em hotel. Os porteiros, na maior gentileza, me dizem “Bom dia, senhora”, “Boa noite, senhora”, “Pois não, senhora”, sempre com a maior boa vontade, e se precipitam para levar meus embrulhos, como se eu fosse um bibelô de porcelana, frágil, sem condições de carregar um pacotinho com um par de meias, oh, maravilha. E, se às 3 da manhã precisar de uma aspirina, um envelope ou um tubo de cola, nenhum problema: é só pedir e logo aparece alguém com tudo em cima e um grande sorriso de felicidade. Com uma boa gorjeta, então, nem se fala. Nunca pensar na existência de um bombeiro, de um eletricista, de um carpinteiro ou pintor, nunca mais enfrentar uma lista de compras, que felicidade. Nunca mais ter que ir ao banco para pagar a conta do telefone, da luz, do gás; jamais, jamais ter que providenciar o conserto da televisão. Não é tudo o que um mortal pode almejar? A manutenção cuida de tudo, santa manutenção. E tem mais: quem não quer ter a roupa de cama e as toalhas do banheiro trocadas todo santo dia? E nada de precisar se preocupar com o sabonete, o xampu, o algodão, os lenços de papel e o cotonete. Usou, o hotel repõe. Se existe um paraíso sobre a terra, seu nome é hotel. Há quem diga que um quarto de hotel é impessoal, mas isso pode ser resolvido. Basta levar umas fotos, uns objetos, um pequeno som, uns CDs e pronto: o quarto vira um lar. E abrir o frigobar e ver aquela perfeição – Coca-Cola, guaraná, água tônica, umas barrinhas de chocolate, pacotinhos de amendoim e castanhas, garrafinhas de uísque, vodca, campari, até de champanhe. Tem melhor? O frigobar: é exatamente aí que a coisa pega. Uma hora bate uma irritação de saber que ele está lá todos os dias, exatamente igual, e ter certeza de que ele será eternamente o mesmo, que jamais se vai encontrar ali um pedaço de carne assada que sobrou do almoço e um pão de forma para fazer um bom lanche. Isso não é vida. Um sanduíche bem caseiro, uma cerveja bebida na lata, um banheiro desarrumado porque alguém passou por lá; e saber que na manhã seguinte vai poder dar uma bronca na empregada. Essas podem ser as próprias imagens da felicidade

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